Ao executar uma obra, é imprescindível planejar o uso dos materiais a serem utilizados, desde sua compra até o seu uso final ou descarte. A responsabilidade de destinar corretamente os resíduos no período de construção é do responsável pela obra, que deve pensar como o material será remanejado, onde será depositado e se o mesmo será ou não descartado, averiguando a possibilidade de reaproveitar o resíduo de outra maneira.
Pensando nisto, diversos estudos sugerem o desenvolvimento de uma maior cultura de reaproveitamento e reciclagem do RCD (Resíduo de Construção e Demolição), visto que a indústria da construção civil no Brasil está no ranking das maiores produtoras de entulho, tendo sua produção de resíduos sólidos de construção civil estimada em 84 milhões de m³ ao ano, onde apenas 17 milhões de m³ deste montante são reaproveitados, visto que o entulho é reciclado em uma a cada cinco obras no Brasil [1]. Nesse contexto, se todo o material fosse reciclado, esses 84 milhões de m³/ano seriam capazes integrar 7 mil novos edifícios de dez andares, 168 mil quilômetros de estradas, o que equivale ao suficiente para dar a volta no planeta Terra quatro vezes, ou cerca de 3,7 milhões de casas populares, ao ano [2]. Além disso, esse material, se fosse inteiramente reciclado, seria “responsável pela geração de milhares de empregos, já que estima-se que para cada três a seis metros cúbicos de entulho reciclado, tem-se aproximadamente sete empregos diretos. Se o material descartado fosse aproveitado de forma correta, haveria muito mais postos de trabalho” segundo descreve Levi Torres, coordenador da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de RCD). Tendo em vista o volume de resíduo anual, seriam gerados pelo mercado de beneficiamento de resíduos de construção civil cerca de 150 mil novos postos de trabalho no Brasil, de acordo com Torres [2].
As pesquisas são realizadas para aproveitar o RCD como agregados de novas produções de materiais, viabilizando que, o que seria descartado, possa voltar para o ciclo produtivo com nova função. O RCD pode ser reutilizado como agregado de argamassas, de concreto, com ou sem função estrutural, possuindo características que viabilizam a substituição do agregado natural comumente utilizado, mantendo sua função sem prejudicar o desempenho. Nas próximas postagens serão abordadas temáticas que envolvem a questão do RCD como nova “matéria-prima” para a indústria, relacionando questões práticas e burocráticas no seu entorno, desde legislação que rege a reciclagem do material, assim como pesquisas que demonstram seu desempenho na prática, envolvendo teores de substituição de RCD, materiais utilizados pela indústria e seu panorama atual no Brasil e no mundo, tendo como foco também a cidade de Porto Alegre, local de elaboração deste Blog. Aproveitem o conteúdo!
Iohana Bürger da Rosa
Orientadora: Angela Borges Masuero
Bolsista BIPOP - NORIE/LAMTAC - Grupo de Materiais - PPGCI
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa - UFRGS - Brasil
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